ATA DA QÜINQUAGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO
LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 08.12.1992.
Aos oito dias do mês de dezembro do ano de mil novecentos e noventa e dois reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Qüinquagésima Quinta Sessão Solene Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às dezessete horas e quarenta minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a entregar o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Carmine Motta e o Prêmio Lupicínio Rodrigues a Senhora Maria di Gesu, concedidos através do Projeto de Lei do Legislativo nº 112/92 (Processo nº 1406/92) e do Requerimento nº 29/92 (Processo nº 1314/92), ambos do Vereador Vicente Dutra. Após, o Senhor Presidente convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Dilamar Machado, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhor Olívio Dutra, Prefeito Municipal; Senhora Maria di Gesu, Homenageada; Senhor Carmine Motta, Homenageado; Senhora Carmelina Motta, esposa do Homenageada; Senhora Lucia Rozmann, Vice-Cônsul da Itália; Senhor Adriano Bonaspetti; e Vereador Vicente Dutra, Secretário "ad hoc". Como extensão da Mesa: Fabrizio e Luciana, filhos do Homenageado; Senhor Carlos Forte, Presidente do Centro Calabrês; Professor Dante de Laytano, Presidente Honorário da Câmara Rio-grandense do Livro; e Jornalista Firmino Sá Britto Cardoso, representando a Associação Riograndense de Imprensa. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, ouvirem o Hino Nacional. Após, o Senhor Presidente pronunciou-se acerca da solenidade e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Vicente Dutra, proponente e em nome das Bancadas do PDS, PDT, PMDB, PTB e PPS, saudou os presentes e disse que este Legislativo estava prestando uma homenagem a duas pessoas italianas, vindas da Cidade de Morano Calabro na Itália, radicadas em Porto Alegre. Discorreu sobre a vida do Senhor Carmine Motta desde sua vinda para Porto Alegre. Também, relatou sua viagem de representação à cidade irmã de Porto Alegre, Morano Calabro. Falou, também, sobre os vários cursos que a Senhora Maria de Gesu fez desde sua vinda para nossa Cidade. Disse que sua obra percorre o mundo e constitui hoje acervo de poesias com Argentina, Alemanha, Espanha, Itália, Estados Unidos, Portugal e Uruguai, sem contar com o Brasil. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra a Senhora Lucia Rozmann, Vice-Cônsul da Itália, que disse do prazer de estar assistindo a presente Sessão Solene que prestigia dois cidadãos italianos pelas qualidades e serviços de ambos no seio da sociedade. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou a presença, no Plenário, do Senhor Remi Carniel, Prefeito Municipal de Cidreira. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para assistirem a entrega da medalha relativa ao Título de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Carmine Motta e o Prêmio Lupicínio Rodrigues a Senhora Maria di Gesu, pelo Vereador Vicente Dutra e pelo Prefeito Olívio Dutra, respectivamente. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Senhores Carmine Motta e Maria di Gesu que agradeceram a homenagem prestada pela Casa. Às dezoito horas e trinta minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou encerados os trabalhos, agradecendo a presença de todos e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Dilamar Machado e secretariados pelo Vereador Vicente Dutra, Secretário "ad hoc". Do que eu, Vicente Dutra, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e 3º Secretário.
O
SR. PRESIDENTE: Senhoras e Senhores, na condição de
Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre tenho a honra de abrir os
trabalhos da Sessão Solene que é destinada, por Requerimento do nobre Ver.
Vicente Dutra, à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr.
Carmine Motta e, ainda, à outorga do Prêmio Lupicínio Rodrigues à Srª Maria di
Gesu.
Compõem a Mesa conosco, para honra desta
Casa, o ilustre Prefeito Municipal de Porto Alegre, companheiro Olívio Dutra;
nossa homenageada Maria di Gesu; Carmine Motta, acompanhado de suas esposa,
Dona Carmelina; Exmª
Srª Vice-Cônsul da Itália, Drª Lúcia Rozmann e o Dr. Adriano Bonaspetti,
Presidente do Comitê Italiano.
Gostaria, ainda, como extensão da Mesa,
de registrar a presença nesta Casa dos filhos do nosso homenageado Carmine
Motta, Luciana e Fabrizio; nosso querido amigo Prof. Dante de Laytano,
Presidente Honorário da Câmara Rio-Grandense do Livro; Sr. Carlos Forte,
Presidente do Centro Calabrês e, ainda, nosso companheiro Firmino Sá Britto
Cardoso, que representa a nossa Associação Riograndense de Imprensa.
Na abertura desta solenidade, convidaria
os presentes para, de pé, ouvirmos a execução do Hino Nacional Brasileiro.
(É executado o Hino Nacional.)
O
SR. PRESIDENTE: Antes de passarmos a palavra ao primeiro
orador para saudar os nossos homenageados, gostaria de destacar aos Srs.
convidados,’ amigos, parentes do Carmine Motta e da Srª Maria di Gesu, que o
Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, nos termos da legislação que
autoriza esta Casa a conferir o título, depois transformado em Lei pela sanção
do Prefeito Municipal, no caso de Carmine Motta, foi uma proposição do Ver.
Vicente Dutra, aprovada pela unanimidade dos Vereadores da Câmara. Ele vai
receber, esta tarde, o diploma de Cidadão Porto-Alegrense e a Medalha de
Cidadão de Porto Alegre. Este título é concedido a pessoas não nascidas em
Porto Alegre, não naturais da nossa Cidade e que têm se destacado de alguma
forma em nossa sociedade. No caso do Carmine Motta, há um confronto direto com
esta Lei, porque ele nasceu em Morano Calabro, e como é uma cidade irmã de
Porto Alegre, na realidade, ele já é nosso conterrâneo de alguma forma. O Ver.
Vicente Dutra há pouco tempo esteve representando esta Casa, esta Presidência e
o Prefeito Olívio Dutra, o Executivo, na cidade de Morano Calabro e voltou
impressionado pelo carinho, pela afetividade, pela aproximação dos moradores
dessa cidade da Itália com a cidade de Porto Alegre. Existem algumas lendas,
que nós vamos ter que esclarecer algum dia, de que tem mais Morano Calabro em
Porto Alegre do que na própria cidade. Não é verdade Chico? Se o Chico
confirma, eu acredito.
Então, é uma alegria para nós porto-alegrenses,
nesta tarde, deferirmos este Título Honorífico que é feito com muita
responsabilidade pela Câmara para uma figura humana das mais agradáveis e
ninguém melhor do que os Senhores, a Colônia Italiana, os naturais de Morano
Calabro para conhecer a história, a trajetória de vida de Carmine Motta. Também
a minha querida amiga Maria di Gesu, a minha saudação como Presidente da Casa,
a alegria de tê-la recebendo um prêmio que é, além de uma homenagem ao seu
talento artístico, uma homenagem a quem deu um nome a este prêmio. Uma das
melhores figuras que Porto Alegre acolheu, um dos maiores poetas deste século e
sem dúvida o maior compositor da música popular deste Estado, que foi Lupicínio
Rodrigues.
Para saudar os nossos homenageados vou
dar a palavra, inicialmente, ao Ver. Vicente Dutra, antes agradecendo também a
presença entre nós do amigo Remy Carniel, Prefeito Municipal de Cidreira.
Com a palavra para falar em nome do PDS,
PDT, PMDB, PTB, e do PPS o autor dos requerimentos de homenagem, Ver. Vicente
Dutra.
O
SR. VICENTE DUTRA: (Saúda os integrantes da Mesa.) Exmo Sr. Prefeito Municipal de Cidreira; DD
Rotarianos; Digno Presidente do Rotary Club Porto Alegre Independência, do qual
faz parte o nosso homenageado, Carmine Motta; Mario Freitas Lessa e demais
companheiros que se fazem presentes. Senhores membros de Associações de
representação de italianos sediados aqui em Porto Alegre e no Rio Grande do
Sul. Membros do Comitê, Vereadores amigos de Carmine Motta e de Maria di Gesu.
Meus Senhores e Minhas Senhoras.
A homenagem que hoje o Legislativo presta
a duas pessoas italianas radicadas em Porto Alegre. Carmine Motta e Maria di
Gesu, só é entendida em toda a sua dimensão se a ligarmos a saga dos imigrantes
italianos e sua extraordinária aventura de se lançar a terras longínquas na
América, deixando para trás o torrão de nascimento. Esta aventura não tem fim e
se prolonga até nossos dias.
Não é fácil alguém deixar sua terra
natal. Os laços familiares, as amizades, a paisagem, o cheiro, a comida. Tudo
prende o viajante. Mas a decisão está tomada, o coração em chamas, a cabeça um
leve torpor de quem sabe que se lança para um caminho sem volta. Risos de
entusiasmo e de esperança, por certo muitas lágrimas derramadas, quem sabe em
frias madrugadas – insones - quando aproxima-se a data do embarque.
Esta conjunção de entusiasmo, receio,
esperança, dúvida e ação é o que constrói uma grande aventura.
Carmine Motta certamente passou por este
processo quando embarcou, em 1961, rumo ao Brasil. No Brasil - Porto Alegre, é
claro - talvez a única certeza absolutamente convicta da grande aventura. Sim
porque Porto Alegre é uma extensão de Morano Calabro é a Morano da América.
Aqui Motta vive intensamente sua vida como profissional, como chefe de uma bela
família, unindo-se a sua querida Carmelinda, companheira inseparável - ela
também moranesa - e geram dois belíssimos filhos o Fabrizio e a Luciana. Como
líder e como cidadão, embora lhe falte esta condição legal plena, desincumbe-se
com exemplar dedicação.
A Lei nº 7159, de 6 de outubro de 1992,
que concede o Título de Cidadão de Porto Alegre a Carmine Motta, trás, na
Exposição de Motivos, uma longa folha da atuação de Motta na comunidade
porto-alegrense. Desta Exposição de Motivos pinçamos, entre tantos pontos
positivos de sua vivência em nossa terra, que exerceu a presidência do
ex-Centro Ítalo-Brasileiro (hoje Sociedade Italiana do Rio Grande do Sul);
organizou a primeira conferência da presença calabresa em Porto Alegre, junto a
PUC/RS; fundou o jornal "Il Gazzettino"; deu grande impulso ao Grupo
Folclórico Monte Pollino; foi Vice-Presidente do Comitê Italiano de Assistência
ao Imigrante; foi Vice-Presidente da Associação dos Alfaiates do Rio Grande do
Sul; representa desde 1987 a Regione Calabria, no Rio Grande do Sul; organiza,
juntamente com o Dioni Torre Bado, o programa radiofônico "L'Eco
D'Itália" na Rádio Princesa; é fundador do Centro Calabrese do Rio Grande
do Sul; membro atuante do Rotary Clube POA-Independência, onde exerceu a
Vice-Presidência; em 1990, o Sr. Presidente da República Italiana confere-lhe o
título de "Cavaliere Officiali della Republica Italiana"; em 1991, é
eleito para integrar o "Comites", onde exerce a Vice-Presidência. Em
junho de 1991, através do Decreto nº 053, foi nomeado Consultor da Regione
Calabria para o Brasil, recebendo assim o mandato de representar a Calábria em
todo o território brasileiro.
Ainda este ano, organizou as comemorações
dos 10 anos do Gemelaggio entre Morano e Porto Alegre. Sobre o Gemelaggio entre
Morano e Porto Alegre, quero aproveitar a oportunidade, em que o Sr. Consultor
da Regione Calabria para o Brasil recebe a homenagem da Câmara Municipal, para
apresentar ao homenageado, à Comunidade Italiana e ao Senhor Prefeito Olívio
Dutra um breve relato de minha recente representação desta cidade em terras
italianas.
Tendo recebido a honrosa incumbência de
representar Porto Alegre nas comemorações do Gemelaggio Deccenalle em Morano
Calabro, chegamos, Leninha e eu, àquela comuna em 20 de novembro, tendo uma
numerosa comitiva, liderada pelo Síndaco Santagada, a nos aguardar na estação
de Castrovillam.
Iniciamos assim uma extensa agenda de
contatos com as autoridades e a comunidade de Morano Calabro. O ponto alto
destes contatos deu-se no dia 21 de novembro, ocasião em que se reuniu o
Consiglio Comunnale, com a presença dos Srs. Consiglieri Comunali, do Sr.
Síndaco Caetano Santagada e esposa e autoridades da Comuna e da Regione
Calabria.
A Sessão Solene transcorreu com diversos
pronunciamentos de Conseglieri e do Síndaco saudando Porto Alegre e
registrando, para eles, a importância deste Gemelaggio. Todos pedem que sejamos
portadores de suas saudações às autoridades, ao Governo e à Comunidade de Porto
Alegre. Registram com letras firmes seu orgulho de terem na América uma cidade
tão bela e tão importante como irmã.
O Síndaco, em seu pronunciamento, fez uma
exaltação especial no sentido de que o intercâmbio de jovens entre Porto Alegre
e Morano se concretize e, para tanto, pede que eu transmita que em Morano
quantos jovens lá chegarem de Porto Alegre serão acomodados em casa de famílias
moranesas para conviverem intimamente a vida na cidade, da qual são oriundos ou
não. No discurso que proferi, em nome de nossa Cidade, transmiti a saudação do
Prefeito, do Presidente da Câmara de Vereadores da comunidade, a todos os
moradores, ressaltando a grande participação dos moraneses em Porto Alegre nas
áreas do comércio, da indústria, da cultura, das artes, da medicina, engenharia
e política.
Quanto ao projeto de intercâmbio de
jovens, respondi que esta era uma aspiração da Comunidade Italiana de Porto
Alegre, e que reafirmávamos a proposta já formulada por Carmine Motta de
concretizar este objetivo, e que, de nossa parte, envidaríamos todos os
esforços neste sentido.
Assistimos, após, a Sessão Solene do
Consiglio, uma mostra histórica com o título "Inamérica", que
constitui na apresentação de documentos, fotos, mapas, desenhos e gráficos
sobre a saga dos imigrantes na América Latina. Esta exposição poderá ser
remetida para Porto Alegre, bastando contatos neste sentido. Seguiu-se, após,
uma visita ao museu e, em seguida, um jantar que teve a presença do Senador da
República Franco Covello, que representava aquele distrito do Maciço Pollino.
Não vamos nos alongar relatando tantos
contatos que tivemos em Morano, todos muito afetivos e carregados de emoção.
Seguimos, dia 22, para a cidade de Catanzaro; conduzidos, minha esposa e eu, em
um carro da Comuna de Morano.
Em Catazaro tivemos três contatos
importantes: primeiro, com o Presidente da Universidade de Catanzaro, Doutor
Rosário Militano, com quem discutimos, em nome do Centro Calabrese do Rio
Grande do Sul, a intensificação os cursos culturais promovidos por aquela
Universidade. As gestões neste sentido foram conduzidas para um intercâmbio, ou
seja, Porto Alegre e outras cidades brasileiras acolheriam alunos italianos em
reciprocidade aos que são lá acolhidos. Estivemos com o Doutor Carlos Tanfermo,
com quem já havíamos contatado em Morano, discutimos uns pontos de projetos e
proposições da Comunidade Calabresa em relação a Regione. Foi enfatizado o
desejo de contar, a Praça Itália, com uma obra de arte característica da
Calabria. Por fim contatamos com a Associação de Pais Adotivos de Filhos
Brasileiros, através do amigo e Secretário desta entidade Sr. Giovani Raffaele,
casado com a brasileira Fátima, e ambos pais adotivos de um brasileirinho
paulista o Tiago, com 3 anos. Eles pretendem ser reconhecidos no Brasil como
instituição credenciada a responder pelas crianças brasileiras adotadas por calabreses.
Na nossa estada em Roma, passamos algumas
horas com o ex-Cônsul Victorino Rotondaro e sua esposa que, amáveis como
sempre, nos cobriram de gentilezas. Pediram que transmitissem, a todos, o
fraterno abraço de coração, e que a saudade que sentem de Porto Alegre é
imensa.
Assim, Sr. Presidente Dilamar Machado,
Sr. Prefeito Olívio Dutra, Sr. Consultor da Calabria, Carmine Motta, Comunidade
Italiana e Vereadores de Porto Alegre, procuramos, Leninha e eu, bem
representar a nossa Cidade em terras tão distantes, mas tão próximas, ligadas
pelo afeto e por tantas e tantas razões.
Se me permitirem uma sugestão, a qual fiz
antes ao Sr. Prefeito, é de que na próxima Legislatura e Administração seja
constituída uma Delegação integrada pelo Prefeito, Presidente da Câmara e
outras Autoridades Estaduais e Municipais, para visitarem àquela região do
mundo. Ganhará Porto Alegre, certamente.
Concluo, Sr. Carmine Motta este relato,
pois recebi também de V. Sª o honroso mandato de representar a comunidade
calabresa do Brasil nesta viagem e, no momento que a Cidade que o acolheu, lhe
confere seu título máximo - Cidadão Honorário -, é bom que se registre uma
etapa dessa intensa ligação que existe entre os moradores e esta Cidade.
Que Deus e Nossa Senhora de Carmine te
protejam e que possas, ao lado dessa notável moranesa, a tua querida Carmelina,
aos filhos, Fabrizio e Luciana, teus parentes, aos amigos, que são inúmeros
nesta Cidade, que possas continuar sempre sendo este notável calabrês e este
amigo do Brasil e de seu povo.
A cidade de Porto Alegre agradece tudo
que por ela tens realizado e, com um gesto de modesto reconhecimento, te
confere este Título de Cidadão Honorário. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: Tenho a honra de conceder a palavra a Srª
Vice-Cônsul da Itália Drª Lucia Rozmann.
A
SRA LUCIA ROZMANN: Exmo
Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Dilamar Machado; Exmo Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre,
Dr. Olívio Dutra; Srª homenageada Drª Maria di Gesu; Exmo homenageado, Dr. Carmine Motta e esposa
Carmelina Motta; Exmo
Sr. Presidente do Comitê Italiano, Dr. Adriano Bonaspetti. Apenas duas palavras
para dizer: é com prazer que assisto a uma cerimonia que vê prestigiados dois
cidadãos italianos, por esta Câmara Municipal de Porto Alegre: Maria di Gesu e
Carmine Motta. A primeira, artista plástica de renome, com o almejado Prêmio
Lupicínio Rodrigues; o segundo, estilista de prestígio, com o não menos
almejado título de Cidadão de Porto Alegre.
É com emoção que os cumprimento também,
em nome do Cônsul Geral da Itália Gianni Martini- ausente por motivo de férias
-, por terem feito jus seja à terra longínqua que lhes deu o berço, seja a esta
terra hospitaleira que lhes deu o lar. Pelas qualidades e serviços de ambos no
seio da sociedade, é um reconhecimento mais que merecido.
A eles, com os nossos cumprimentos, os
mais calorosos parabéns! (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: Neste momento, convido o Ver. Vicente
Dutra autor das proposições para, juntamente com o Prefeito Olívio Dutra,
procederem à entrega do Título de Cidadão Porto-Alegrense ao Dr. Carmine Motta
e do Diploma Lupicínio Rodrigues a Srª Maria di Gesu.
(São concedidos o Título e do Prêmio.)
(Palmas.)
O
SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o mais novo Cidadão de
Porto Alegre, Dr. Carmine Motta.
O
SR. CARMINE MOTTA: Exmo
Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre Ver. Dilamar Machado; Exmo Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre
Dr. Olívio Dutra; Exmª
Srª homenageada e minha querida amiga Maria di Gesu; Exmª Srª Lucia Rozmann, Vice-Cônsul da
Itália, representando, neste ato, o Dr. Gianni Martini, nosso Cônsul General;
Exmo
Presidente do Comitê Italiano, meu caro companheiro Adriano Bonaspetti; saúdo, também, o Prefeito de Cidreira, meu
querido amigo Remy Carniel, que veio especialmente de Cidreira, muito obrigado;
queria agradecer a todos os italianos, os amigos brasileiros, os presidentes
das diversas entidades italianas aqui representadas, pela presença neste momento,
a todos os meus colegas de profissão, meus colegas estilistas, que alguns estão
aqui representando a categoria; meus queridos companheiros de Rotary do Clube
Porto Alegre Independência, na pessoa do meu Presidente Mário Lessa Freitas; e
todos os meus amigos. Em particular, a minha tia Marieta aqui, neste momento, a
vejo como se a minha mãe estivesse aqui, e todos os meus parentes; meus amigos;
queridas autoridades.
Esse dias, olhando meu velho baú,
voltaram algumas imagens em minha memória: quando, naquela bela manhã do dia 3
de julho de 1961, eu e ele partimos. Naquele dia meu pai levantou bem cedo,
junto com minha mãe, que normalmente levantava cedo, e eu quase não dormi. Ao
olhar o meu pai, percebi que estava muito nervoso, também pudera, era o outro
filho que emigrava. Em 1951, tinha saído o meu irmão. De vez em quando, ele ia
até o baú para colocar algo mais, nos cantinhos enfiava os figos secos para
preencher todos os espaços. O fazia com tanta dedicação, ele não falava,
tampouco me olhava. Depois vieram os meus amigos e os vizinhos para me
acompanhar até o ônibus, na praça principal de Morano Calabro. Ao partir, meu
pai me deu um beijo e disse duas palavras: "fatti onore" e, desde 21
de julho de 1961, quando aqui cheguei, sempre tentei honrar minha família,
minha terra nativa e a terra que me acolheu.
Esta é uma das tantas histórias humanas
que formam, contornam e constituem este complexo fato humano que se chama
emigração.
Desde pequeno, Porto Alegre esteve no meu
projeto de vida. Meu avô materno chegou aqui no início do século, depois vieram
os meus tios, logo depois da última guerra meu irmão, e eu, em 1961, e os meus
pais, em 1963. Para nós, naquela época, a emigração era uma escolha quase
obrigatória.
No início, trabalhei numa empresa de
confecção, depois abri meu atelier e com o trabalho fiz tantos amigos.
Em 1975, a convite do Professor Dante de
Laytano e do Sr. Fedele Feoli, comecei a participar das atividades da
Comunidade Italiana. Em todos os cargos que ocupei, o fiz sempre com muita dedicação.
Colaborei, também com os meus colegas,
dentro da Associação Sul Rio-Grandense de Alfaiates. Em 1986, a convite dos
meus caros padrinhos Nair e Homero Guerreiro, entrei no Rotary Porto Alegre
Independência, no qual conquistei a amizade de tantos queridos companheiros.
Com o Professor Dioni Bado, iniciamos o
programa radiofônico "L'Eco D'Itália", sempre tentando estreitar o
relacionamento de fraternidade entre Brasil e Itália.
Porto Alegre sempre esteve no meu
coração, desde os primeiros dias quando aqui cheguei. Não só pelas belezas
naturais, mas sobretudo pela maneira acolhedora de seu povo. Lembro-me do
primeiro Natal. Tinha que comprar um presente para minha sobrinha, e uma
senhora que trabalhava comigo disse-me: "italianinho, eu vou contigo como
se fosse tua mãe". Eu mal sabia falar o português. Que gesto de amor!
Chamava-se Dona Alzira. Nunca mais a vi. E o Sr. Dinarte, gerente de um banco,
que ao passar no negócio do meu irmão sempre me dizia: "italianinho, tens
que aprender duas palavras por dia". E ele passava todos os dias para me
ensinar os vocábulos da língua portuguesa.
Estes são apenas alguns fragmentos de
minha memória, fatos simples, mas marcantes, gestos de fraternidade de um povo
nobre. O mais gratificante, para mim, é que tudo isto aconteceu sem ter que
abandonar minhas origens, ao contrário, como italiano tornei-me gaúcho.
O convívio fraterno com o povo de Porto
Alegre, junto com os dois porto-alegrenses, meus queridos filhos Luciana e
Fabrizio e minha companheira de todas as horas, minha esposa Carmelina,
serviram de conforto para aliviar a saudade de minha terra natal.
E hoje, este mesmo povo; através de seus
representantes, me confere o Título de Cidadão Honorário. Neste momento, quero
agradecer ao meu querido amigo, Ver. Vicente Dutra, por ter proposto o meu
nome, e eu digo que vou honrar como sempre honrei este Título. Muito obrigado,
Vereador. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: Antes de passarmos a palavra a nossa
outra homenageada, a artista plástica Maria di Gesu, devolvo a palavra ao Ver.
Vicente Dutra para a saudação especial a outra nativa de Morano Calabro.
O
SR. VICENTE DUTRA: Quando fazíamos, na homenagem a Carmine
Motta, referência a contribuição histórica e atual dos calabreses de Morano
Calabro à Porto Alegre, logo surge no campo da arte a marcante presença de
Maria di Gesu.
Maria di Gesu, filha de Morano, veio para
o Brasil em 1947. Em 1953 ingressou no Instituto de Belas Artes de Porto
Alegre, onde cursou música, desenho e modelagem, aperfeiçoando-se nas artes,
vocação que já, no decorrer da 2ª Guerra, a fazia interessar-se, como
autodidata, pela pintura, cerâmica e desenho. O cenário então era Morano
Calabro. Participou por sete anos do Coral da OSPA. Esta extraordinária artista
calabresa nunca parou no seu aperfeiçoamento e na busca de outras expressões
artísticas. Aprendeu a tocar nove instrumentos musicais, sendo o violino o de
sua maior predileção. Escultura, xilogravura, orquestração, canto gregoriano,
são expressões desta alma artística de imensa criatividade.
Sobre Maria di Gesu assim expressa o
Mario D'Agord, quando Diretor Cultural do CIB, em 1993: "Artista
autodidata, como foram os grandes mestres, Maria di Gesu espalha sua arte de
uma forma bem particular, absorvendo o primitivismo, herdado de sua infância
passada entre as montanhas de sua terra natal, ela retrata em sua obra a
grandeza da alma humana, o amor e ecologia, a ingenuidade do cotidiano,
culminando esta trilogia numa transbordante religiosidade”.
Nossa homenageada tem movimentada agenda,
participado de inúmeras exposições individuais e coletivas, bienais e salões,
sempre merecendo referências destacadas da crítica, além de premiações e
menções.
Nelson Abott de Freitas escreveu no
“Correio do Povo” em 1983: "vibrei com a arte de Maria di Gesu, quando
vislumbrei os seus quadros enfileirados no Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro, quando integravam o acervo do V Salão Nacional de Artes Plásticas,
como a única representante da pintura do Rio Grande do Sul. A elegância das
figuras, irmanadas ritmicamente em composições graciosamente construídas, onde
a ingenuidade do seu desenho aliava-se em um agradável toque musical, fez-me
parar demoradamente, para melhor pensar no seu universo pictórico, tecido de
talento e amor”.
A obra de Maria di Gesu percorre o mundo
e constitui, hoje, acervo de poesias com a Argentina, a Alemanha, Espanha,
Itália, Estados Unidos, Portugal e Uruguai, sem contar com o Brasil.
O mestre Dante de Laytano, moronês da boa
cepa, sobre sua conterrânea Maria di Gesu assim se expressa: "Maria di
Gesu é uma artista consciente de seu poder criativo que emerge justamente da
rica força imaginosa que, por séculos e séculos, montou a infra-estrutura do
pensamento estético italiano. As origens itálicas estão presentes no seu traço,
no seu desenho, na sua cor e, aculturando-se pela inspiração da nova terra
brasileira e depois gaúcha. Maria di Gesu, revela-se uma inovadora, senhora
absoluta de um estilo pessoal, recriando os temas jovens de uma paisagem,
figuras de um universo diferente e partindo para o inédito, no que traz para
sua arte. Mas não perde nunca os traços que lhe proporcionam sua origem
peninsular."
O mestre Dante de Laytano avalia a
grandeza e a profundidade da obra desta notável mulher, pois, oriundo da mesma
Morano, ele sente, com muita precisão, a influência da origem itálica e a da
nossa terra que se projetam na arte de Maria di Gesu.
Porto Alegre, neste 8 de dezembro, Dia de
Nossa Senhora da Conceição, registra esta homenagem a uma artista repleta de
religiosidade em sua obra e concede-lhe, por unanimidade dos Vereadores, o
prêmio artístico Lupicínio Rodrigues, aprovado na Sessão de 26 de agosto de
1992.
Maria di Gesu, por tudo e por tanta
beleza e harmonia que produz, Porto Alegre tem orgulho da tua presença e te
agradece por a teres escolhido como a Cidade de coração, e que tua obra seja
perene como confirma Victor Hugo quando diz: "no poeta e no artista vive o
infinito". Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra a Srª Maria di Gesu.
A
SRA. MARIA DI GESU: Exmo
Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Sr. Prefeito, Olívio Dutra,
autoridades e amigos presentes, agradeço ao Ver. Luiz Vicente Dutra por ter
proposto meu nome à Câmara, para me conceder este prêmio.
Agradeço a todos os amigos aqui presentes
por me estarem, prestigiando neste dia tão importante para mim. Muito obrigada
a todos. (Palmas.)
(Não revisto pela oradora.)
O
SR. PRESIDENTE: Vamos encerrar esta Sessão agradecendo de
forma extremamente carinhosa a presença de todos. E eu vou retribuir ao Carmine
Motta, que diz que é italiano-gaúcho. A única vez que tive o privilégio de
visitar a Itália, infelizmente, não me conduziram até Morano Calabro. Mas eu
estive naquelas tradicionais visitas para quem vai à Itália, a partir de Roma,
Pizza, Nápoli, Capri, Veneza, Verona, Milano etc. em todos o tempo que eu
viajei pela Itália - mais ou menos dez dias -, uma canção me acompanhou - e só
depois de quatro anos que eu fui descobrir a gravação -, e eu não sei se vou
repetir o italiano, non parlo, mas é uma coisa mais ou menos assim:
"Lasciame cantare, con la guitarra in mano. Io sono italiano,
l'italiano vero".
A nossa aproximação com os imigrantes,
com os seus descendentes, e aqui na Câmara Municipal, felizmente, Morano
Calabro estará sempre presente, para orgulho meu, como Presidente da Casa, do
Prefeito Olívio Dutra, desta Cidade, afinal de contas, trata-se de cidades
irmãs, e, como irmãos, concedemos hoje esta homenagem a dois moraneses: a Maria
di Gsu e ao Carmine Motta.
Agradeço a presença de todos, declaro encerrados os trabalhos desta Sessão. Os senhores poderão cumprimentar os homenageados junto à Mesa dos trabalhos. Muito obrigado a todos.
(Levanta-se a Sessão às 18h30min.)
*
* * * *